domingo, 16 de outubro de 2011

CAICs: sem função definida, destruídos e abandonados

Roberto Lucena
Repórter

De longe, eles chamam atenção. O teto dos ginásios em formato de "v" invertido e a faixada que lembra uma colmeia se destacam entre as demais construções. Os prédios largos com dois andares compõe o visual imponente. Porém, basta um olhar mais de perto, para constatar que a maioria dos Centros de Atenção Integrada à Criança (CAICs) existentes no Rio Grande do Norte precisa de reparos, reformas e até mesmo construções para continuar de pé. Pixações, infiltrações, pisos e paredes quebrados são alguns dos problemas enfrentados por alunos e professores.

No Estado, existem 14 unidades de CAICs que foram construídos pelo Governo Federal no período de 1993 a 1994. Em 2003, a então governadora Wilma de Faria solicitou a transferência para o patrimônio do Estado. Até hoje, alguns processos não foram finalizados e o CAIC de Caraúbas, por exemplo, está completamente abandonado e destruído. Das demais unidades, apenas uma - localizada no bairro Planalto, em Natal - pertence à prefeitura da capital.

Os problemas se espalham em todas as unidades onde funcionam escolas estaduais que geralmente oferecem o Ensino de Jovens e Adultos (Eja). No CAIC de Assu, onde funcionava a Escola Estadual Poeta Renato Caldas, foi preciso a intervenção do Corpo de Bombeiros. Desde junho, o prédio está fechado pois não há condições de uso. O risco de desabamento das estruturas de ferro e concreto, além da falta de material de prevenção contra incêndio foram os motivos para a interdição do local. A escola funciona em outro prédio alugado.

Em Macaíba, o CAIC abriga a  Escola Estadual Deputado Jessé Pinto Freire que funciona de manhã e à tarde. Logo na entrada, é possível verificar alguns problemas. Os portões estão enferrujados e há lixo espalhado no chão. Ao lado do ginásio de esportes, uma estrutura de metal também enferrujada ocupa o lugar onde deveria existir um hidrômetro. Os vestiários e banheiros do ginásio estão em péssimas condições. Os sinais de vandalismo e depredação estão em todas as partes.

O cenário é ainda pior no CAIC de Parnamirim. Paredes ameaçam cair e um lado da quadra de esportes já desabou. O piso quebrado dos corredores e áreas de circulação, comprometem a segurança de alunos, professores e visitantes. Lá, funciona a Escola Estadual Arnaldo Arsênio de Azevedo.  Há menos de um mês, um aluno do 7º ano perdeu a visão em um olho quando um arame que era usado como cadeado no portão da quadra se desprendeu e perfurou seu olho direito.

Em Caraúbas, a situação é ainda pior. O CAIC do município nunca funcionou como escola estadual e a estrutura está abandonada desde 2003. O Ministério Público Federal está ciente da situação e abriu um inquérito para apurar as responsabilidades dos gestores.

A chefe do setor de Assessoria Técnica e de Planejamento (ATP) da secretaria de Estado da Educação e Cultura (Seec), Elisabete Barbosa de Lima, informou que a Seec tem conhecimento dos problemas enfrentados pelos CAICs, porém, o processo de doação das unidades ainda não foi concluído, o que, segundo a assessora, atrapalha os trabalhos. "Estamos ainda com o processo de doação do Patrimônio da União para o Governo do Estado", disse.

Escola de Lagoa Nova é exemplo 

Nem todos os CAICs estão abandonados e com a estrutura em frangalhos. Em Natal, no bairro Lagoa Nova, existe um exemplo de bom uso do dinheiro público e gestão de pessoas. No maior CAIC do Estado, não há sinais de depredação. As paredes, piso e teto estão limpos. A Polícia Militar está presente no local. Os espaços de esporte são usados diariamente e os alunos adotaram o Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Reginaldo Teófolis como sua casa.
Rodrigo SenaNo Planalto, o prédio da escola apresenta sinais de vandalismoNo Planalto, o prédio da escola apresenta sinais de vandalismo

No prédio principal, são 16 salas de aula, uma biblioteca, sala de informática e refeitório. Corredores e banheiros limpos dão ao ambiente uma higiene vista com mais frequência em escolas privadas.

A vice-diretora da escola credita a boa conservação do espaço ao trabalho de conscientização realizado com os mais de 600 alunos há cerca de um ano. "Isso é fruto do planejamento pedagógico e da conscientização dos alunos no sentido de perceberem que a escola é deles, como se fosse um segundo lar", disse Graça Mafra.

O compromisso com a qualidade do ensino e conservação do espaço público começaram a chamar a atenção de alunos de outras escolas. Foi o caso do estudante Francisco da Silva, 18 anos. Até o ano passado, Francisco estudava em uma escola no bairro que mora, Felipe Camarão, mas resolveu estudar num local "melhor", como ele diz. "Na outra escola era tudo bagunçado, sujo, desorganizado. Não tinha uma biblioteca boa como a daqui. Dou nota 10 para a escola", afirmou.

No CAIC de Lagoa Nova, além do Centro de Educação, funcionam a Pousada do Atleta, Federação de Atletismo, comandada pela desportiva Magnólia Figueiredo, Museu do Atleta e a Companhia Independente de Prevenção ao Uso de Droga (CIPRED) da Polícia Militar. A CIPRED é quem coordena o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) e a Ronda Escolar. "São mais de 30 policiais para garantir a segurança de crianças e adolescentes que frequentam as escolas da região", disse o tenente Romão, da CIPRED.

No espaço, ainda é desenvolvido um programa de atenção aos idosos e a pista de atletismo é aberta à comunidade para caminhadas e treinos de corrida. "O espaço é bem usado por todos: crianças, jovens e idosos. É claro que ainda podemos melhorar, mas acho que já desempenhamos um bom papel para a sociedade", afirmou a vice-diretora.
Fonte: http://www.tribunadonorte.com.br/

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